sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Pálido Ponto Azul

(A Terra é um minúsculo ponto, distante 6.4 bilhões de quilômetros, no meio de um raio solar, circulado em azul)


Olhem de novo para esse ponto. Isso é a nossa casa, isso somos nós. Nele, todos a quem amam, todos a quem conhecem, qualquer um de quem escutaram falar, cada ser humano que existiu, viveram as suas vidas. O agregado da nossa alegria e nosso sofrimento, milhares de religiões autênticas, ideologias e doutrinas econômicas, cada caçador e colheitador, cada herói e covarde, cada criador e destruidor de civilização, cada rei e camponês, cada casal de namorados, cada mãe e pai, criança cheia de esperança, inventor e explorador, cada mestre de ética, cada político corrupto, cada superestrela, cada líder supremo, cada santo e pecador na história da nossa espécie viveu aí, num grão de pó suspenso num raio de sol.
A Terra é um cenário muito pequeno numa vasta arena cósmica. Pensem nos rios de sangue derramados por todos aqueles generais e imperadores, para que, na sua glória e triunfo, vieram eles ser amos momentâneos duma fração desse ponto. Pensem nas crueldades sem fim infligidas pelos moradores dum canto deste pixel aos quase indistinguíveis moradores de algum outro canto, quão frequentes as suas incompreensões, quão ávidos de matar uns aos outros, quão veementes os seus ódios.
As nossas exageradas atitudes, a nossa suposta auto-importância, a ilusão de termos qualquer posição de privilégio no Universo, são reptadas por este pontinho de luz frouxa. O nosso planeta é um grão solitário na grande e envolvente escuridão cósmica. Na nossa obscuridade, em toda esta vastidão, não há indícios de que vá chegar ajuda de algum outro lugar para nos salvar de nós próprios.
A Terra é o único mundo conhecido, até hoje, que albriga a vida. Não há mais nenhum, pelo menos no futuro próximo, onde a nossa espécie possa emigrar. Visitar, pôde. Assentar-se, ainda não. Gostandos ou não, por enquanto, a Terra é onde temos de ficar.
Tem-se falado da astronomia como uma experiência criadora de firmeza e humildade. Não há, talvez, melhor demonstração das tolas e vãs soberbas humanas do que esta distante imagem do nosso minúsculo mundo. Para mim, acentua a nossa responsabilidade para nos portar mais amavelmente uns para com os outros, e para protegermos e acarinharmos o ponto azul pálido, o único lar que tenhamos conhecido.
         (Carl Segan)




Acredito que o texto fala por si só, tornando desnecessario qualquer comentário meu. Todavia, nao posso deixar de evidenciar a maestria com que Segan trata uma única foto.
Embora tenhamos perdido essa pessoa para um câncer, sua genialidade permanece e ainda contribui para a ciência atual, além de nos alertar sobre o que estamos fazendo com nosso proprio e único lar (o pálido ponto azul).